Vitor Ramil te pega pela palavra poética de Paulo Leminski em ‘Mantra concreto’, álbum com raro requinte instrumental
02/11/2024
Vitor Ramil lança o álbum 'Mantra concreto' com 13 músicas compostas a partir de poemas de Paulo Leminski (1944 – 1989)
Marcelo Soares / Divulgação
Capa do álbum ‘Mantra concreto’, de Vitor Ramil
Arte de Felipe Taborda
♫ OPINIÃO SOBRE DISCO
Título: Mantra concreto
Artista: Vitor Ramil
Cotação: ★ ★ ★ 1/2
♪ “Paulo Leminski, o lírico que associa o esquecimento e a chuva no telhado à felicidade, é também o cachorro louco que faz chover no nosso piquenique”.
Inventiva, a caracterização do poeta e escritor curitibano surge nas palavras escritas pelo gaúcho Vitor Ramil para o texto em que apresenta o 13º álbum do artista de Pelotas (RS), Mantra concreto, lançado em 10 de outubro em edição digital e também já disponível no formato físico de CD.
Neste disco, Ramil apresenta 13 músicas feitas pelo compositor a partir de poemas de Paulo Leminski Filho (24 de agosto de 1944 – 7 de junho de 1989) em tributo que coincide com o 80º aniversário do escritor.
Alguns poemas nem tinham título e foram batizados pelo próprio Ramil, caso do poema que gerou a canção-título Mantra concreto.
Neste disco, Vitor Ramil (voz e violões) pega o ouvinte pela palavra poética de Leminski em faixas gravadas com requinte instrumental e com os toques dos músicos Alexandre Fonseca (bateria, tablas, percussão e programação) e Edu Martins (synth bass). O trio assina a produção musical do álbum gravado por Lauro Maia, mixado por Moogie Canazio e masterizado de André Dias.
Há músicas, casos de Palavra minha e de Um bom poema, em que a melodia ombreia os versos do poeta, cuja voz é ouvida na fala embutida na faixa de abertura De repente.
No geral, a força da poesia se ergue sobre a música, como em Minifesto, faixa valorizada pelo toque da guitarra do ás Toninho Horta, um dos músicos convidados por Ramil para o disco.
Contudo, há sutilezas ao longo do álbum, seja o falsete ambicionado por Ramil no canto de Administério, seja o toque da kalimba de Santiago Vasquez, responsável pela atmosfera de acalanto que envolve Será quase. Ou ainda os trombones de José Milton Vieira, arranjados pelo violinista Vagner Cunha em O velho Leon e Natália em Coyoacán.
Tudo está no devido lugar. Inclusive a capa do disco. Criada pelo designer Felipe Taborda, a capa do álbum Mantra concreto cita o cartaz mais conhecido da obra produzida por Alexander Rodchenko (1891 – 1956) e Vladimir Maiakovski.(1893 – 1930) na pioneiro agência de publicidade aberta pelos artistas nos anos 1920.
Lançado em 1925, o famoso cartaz está reproduzido no encarte da edição em CD do álbum. “Para a capa, desejei algo que remetesse ao construtivismo e ao cubo futurismo russos e também à cultura pop”, conceitua Ramil.
O cuidado com a capa se estende à arquitetura instrumental do álbum Mantra concreto. “Do som agudo mais sideral e cristalino descemos aos tremores de terra mais cavernosos, capazes de modular a voz e tudo mais que estivesse em volta; da regularidade horizontal e geométrica dos violões, volta e meia descambamos para acentos verticais em tempos aleatórios; a limpeza mais limpa e a podreira mais podre trocaram figurinhas; música das galáxias, gotas de absinto, uma viola caipira lisérgica, uma máquina de escrever que substitui uma bateria, o ataque de um besouro-sintetizador gigante, o voo de famintos violinos-mosquitos, um violão de nylon fantasma. No meio de tudo, a voz flutuando como um holograma. Acho que levamos Paulo Leminski a seu destino”, conclui Vitor Ramil no texto em que apresenta o álbum Mantra concreto.
De fato, a poesia de Lemisnki ficou no lugar certo neste disco coerente com a trajetória fonográfica de Vitor Ramil.
Vitor Ramil assina a produção musical do álbum ‘Mantra concreto’ com Alexandre Fonseca e Edu Martins
Marcelo Soares / Divulgação